Uma volta ao mundo que inspirou a mudança
Desde os seus quatro anos que Ellen sonhava dar a volta ao mundo de barco. Aprendeu a velejar cedo, por influência familiar, e o espírito de aventura e ousadia levaram-na a entrar na Vendée Globe, em 2001, quanto tinha apenas 24 anos. A Vendée Globe é a maior e mais dura regata do mundo, a solo e sem paragens. 94 dias depois da partida, Ellen terminou em segundo lugar e passou a ser reconhecida internacionalmente.
Em 2008, bateu o recorde da volta ao mundo num veleiro, a solo — foi a primeira mulher a fazê-lo. Demorou 71 dias, 14 horas, 18 minutos e 33 segundos. Mais tarde, Ellen MacArthur foi ordenada Dama pela Rainha Isabel II (o equivalente feminino a Cavaleiro) e recebeu a Legião de Honra da república francesa.
Com o objetivo de bater o recorde da altura, fixado em 72 dias, Ellen MacArthur reduziu ao mínimo indispensável o que levou no veleiro. Todos os gramas contam quando é preciso evitar peso desnecessário. O processo de planear as provisões até “à última embalagem de comida” mostrou-lhe como se pode viver com recursos limitados.
Sobreviver à escassez
Ao 25.º dia da viagem que lhe deu o recorde da volta ao mundo, Ellen escrevia no diário que se tinham acabado as barras de cereais e as papas de aveia, dois elementos essenciais na dieta a bordo. A comida — alimentos liofilizados, frutos secos, leite em pó, bolachas e caramelos — acabou mais cedo do que previra e parar num qualquer porto para reabastecer não era sequer uma opção.
Durante os 71 dias da viagem, o barco e o que havia dentro dele tornaram-se o seu mundo. A solitária viagem de circum-navegação foi profundamente inspiradora para Ellen MacArthur e acabou por mudar sua vida. A velejadora britânica entendeu algo que nenhuma outra experiência na vida dela poderia ter-lhe explicado de forma tão clara: as coisas são “finitas”, no sentido de terem um fim, um limite.
E fê-la compreender algo maior do que ela, do que o seu veleiro, ou até do que o seu amor pela navegação: também a Terra tem recursos finitos e é preciso cuidar do planeta que nos acolhe.
À semelhança da experiência-limite que viveu a bordo, Ellen MacArthur percebeu que o mundo fora do veleiro também dependia de recursos finitos, efémeros, limitados, que estão a ser consumidos demasiado depressa.
Os anos seguintes seriam passados a estudar e a investigar como é que seria possível desligarmo-nos do modelo económico atual, em que há uma lógica de que tudo é “descartável”, para uma economia circular, na qual os recursos, depois de usados, são reutilizados, recuperados e transformados — dando origem a novos usos.
Nova rota, rumo à economia circular
Apesar do amor pelo mar, Ellen retirou-se das competições em 2009 para poder focar-se inteiramente na sua nova missão: catalisar a mudança. Aproveitando a sua força e carisma, Ellen lançou uma fundação com o seu nome para acelerar a transição para a economia circular.
Desde a sua criação, em 2010, a Fundação Ellen MacArthur tem sido um agente muito ativo, colocando o tópico da economia circular na agenda de governos, universidades, empresas e comunicação social. Em conjunto com os seus parceiros, a Fundação promove o conhecimento, explora oportunidades de colaboração e desenvolve soluções para uma economia circular.
Inevitavelmente, os relatórios da Fundação Ellen MacArthur tornaram impossível continuar-se a ignorar o gigantesco elefante na sala — mais concretamente, os milhões e milhões de toneladas de plástico que poluem o planeta.
O plástico é um problema “eterno”. É praticamente indestrutível e liberta substâncias tóxicas para os sistemas que polui. A crise de poluição por plástico tem levado governos de todo o mundo a implementar medidas para a redução do seu consumo e para a eliminação, tanto quanto possível, dos plásticos descartáveis e de uso único.
Aplicando os princípios da economia circular à gestão de resíduos plásticos, a Fundação Ellen MacArthur lançou o desfio da Nova Economia do Plástico.
O Compromisso Global da Nova Economia do Plástico
A gestão do plástico é uma das principais áreas de ação da Fundação Ellen MacArthur, uma vez que o problema da poluição por plástico não pode ser resolvido apenas com a reciclagem e a redução do consumo. Todo o sistema em redor da produção tem de ser repensado, o que inclui a forma como se projeta, usa e reutiliza plástico.
A visão global da Nova Economia do Plástico, é a de uma economia circular para os plásticos, na qual estes nunca se tornam “lixo”. Esta visão assenta em três ideias fundamentais: eliminar, inovar e circular.
Os três propósitos concretizam-se através da eliminação de todos os itens plásticos problemáticos e desnecessários, na inovação que garanta plásticos reutilizáveis, recicláveis ou compostáveis e, na circularidade que reinsira os plásticos já usados de novo na economia.
A Nova Economia do Plástico prevê que através de design, inovação e novos modelos de negócio seja possível eliminar as embalagens plásticas desnecessárias e descartáveis, tornar as embalagens de plástico totalmente recicláveis, reutilizáveis, compostáveis e livres de químicos perigosos. Idealmente, é possível desligar completamente o uso de plástico do consumo de recursos naturais – que são finitos.
Sem uma mudança drástica na forma como se gere a produção, ciclo de vida e valorização do plástico, em 2050 pode haver mais plástico do que peixes nos oceanos. Veja quais são os 14 tipos de plástico mais encontrados nos oceanos.
Jerónimo Martins e a visão da Fundação Ellen MacArthur
Sabendo que os recursos naturais são preciosos, o Grupo Jerónimo Martins tornou-se membro fundador do Pacto Português para os Plásticos, uma plataforma colaborativa que faz parte da Rede dos Pactos para os Plásticos da Fundação Ellen MacArthur. A coordenação é assegurada pela associação Smart Waste Portugal.
A visão do Pacto Português para os Plásticos é similar à visão global da Fundação Ellen MacArthur: concretizar uma economia circular para os plásticos em Portugal, para que nunca se convertam em resíduos. Dois anos depois de ter sido lançado, o Pacto inclui mais de 100 organizações.
O Grupo Jerónimo Martins assumiu o compromisso de, até 2025:
- garantir que todas as embalagens de plástico de Marca Própria são reutilizáveis ou recicláveis;
- incorporar pelo menos 25% de conteúdo reciclado nas embalagens de plástico de Marca Própria;
- reduzir em 10%, face a 2018, o consumo específico de plástico medido em toneladas de embalagens de plástico por cada milhão de euros de volume de negócios.
Além disso, é um dos poucos retalhistas alimentares a nível mundial que divulga publicamente a quantidade de plásticos de uso único da sua responsabilidade, assumindo uma postura de total transparência.