Os preconceitos que alimentam a desigualdade de género
O futebol é um desporto de homens? As roupas cor-de-rosa são só para meninas? Só as raparigas é que gostam de cozinhas de brincar? E os carrinhos? É brincadeira de rapazes? Apesar de não estar na idade dos porquês, certamente já terá pensado nestas inquietações. As respostas parecerem óbvias (assim esperamos), mas a tradição diz-nos que não é bem assim.
De acordo com um estudo da ONU, 91% dos homens e 86% das mulheres já mostraram preconceito em relação ao género pelo menos uma vez, em áreas tão distintas como a política, educação, economia, violência ou direitos reprodutivos das mulheres.
O mesmo estudo revela também que muitos dos comportamentos e preconceitos são aprendidos e incorporados logo na infância, em casa, com o tratamento diferente entre um filho e uma filha por parte do pai e da mãe.
Os papéis tradicionais do homem e da mulher, como ocupações ou comportamentos considerados como adequados aos dois géneros, assentam em construções sociais em função do género sexual, levando a idealizações do que é masculino e do que é feminino.
O preconceito, de onde vem?
A resposta exige um recuo até à Grécia antiga, berço das modernas civilizações ocidentais. Nessa época, em 800 a. C., às mulheres não era sequer concedido o estatuto de cidadãs, tal como aos estrangeiros ou aos escravos. As sociedades eram construídas com base na perceção da força masculina. Pela sua aparente fragilidade física, as mulheres foram sendo submetidas à tutela dos homens.
Mais de dois mil anos depois, já perto do final da Idade Média, a grande maioria das mulheres continuava a ser alvo de discriminação pelo simples facto de ser do sexo feminino. Algumas coisas mudaram, como o poder de decisão em casa que foi sendo ganho de forma progressiva devido às longas ausências dos homens pelo facto de serem chamados para os conflitos armados. O papel das mulheres era cuidar da casa e da família.
Só durante o século XVIII, durante o Iluminismo, é que as mulheres tomaram maior consciência da desigualdade a que estavam sujeitas. O acesso à educação tornou-se um passaporte para a ascensão social.
Já no século XIX, aumentou o número de mulheres que sabiam ler, que escreviam obras literárias, que publicavam conteúdos vários nos jornais. Reúnem-se em tertúlias e começam a construir as bases de uma maior afirmação social.
Igualdade de género é um direito
O conceito de igualdade de género vem romper com os estereótipos que causam pressão sobre homens e mulheres, levando frequentemente a situações de injustiça como a desigualdade salarial, a dificuldade das mulheres no acesso a lugares de chefia e cargos políticos, ou a estigmatização dos homens no local de trabalho quando usufruem licença de parentalidade.
Segundo um estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS), ser mulher em Portugal continua a ser uma desvantagem em termos laborais. Mesmo sendo mais escolarizadas que os homens, recebem salários mais baixos, têm condições laborais mais precárias e ocupam mais tempo em tarefas domésticas e a cuidar da família. Há ainda uma expectativa na sociedade portuguesa que as mulheres sacrifiquem a sua carreira profissional em prol da família, o que acaba por refletir-se na forma como são tratadas no local de trabalho. Adicionalmente, continua a preferir-se contratar homens em vez de mulheres com currículos semelhantes, o que ajuda a perpetuar a desigualdade de género.
E na Europa?
Em linha com a estratégia da União Europeia para a igualdade de género, tem sido adotada legislação para alcançar igual participação de homens e mulheres em todos os sectores de atividade.
Na Suécia, por exemplo, há 180 dias de licença de parentalidade para cada um dos progenitores dos quais 90 dias não são transferíveis para o outro progenitor.
Para medir as conquistas, o Instituto Europeu da Igualdade de Género criou um índice que avalia o conceito numa escala de 1 a 100. Em 2021, o índice geral da UE ficou nos 68. O país com melhor índice foi a Suécia (83,9) e o país com pior índice de igualdade de género foi a Grécia (52,5). Portugal ficou abaixo da média da UE, com um índice de 62,2.
Para além dos organismos europeus e nacionais, também as empresas devem assumir a responsabilidade de fazerem alguma coisa para que a igualdade de género seja uma realidade. O Grupo Jerónimo Martins tem mais de 118 mil colaboradores (em Portugal, Polónia e Colômbia) e as mulheres representam 76% da força de trabalho e, nos cargos de gestão, ocupam 68% dos lugares. O Grupo Jerónimo Martins integra o índice da Bloomberg Gender-Equality, que reúne empresas mundiais com trabalho feito na defesa da igualdade de género.