O que é o desperdício alimentar?
Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o desperdício alimentar acontece sempre que um alimento produzido para alimentação não cumpre esse propósito, acabando no lixo. Se é verdade que o desperdício de alimentos acontece em todas as fases do seu processo de produção, implicando vários intervenientes, é também verdade que a maioria do desperdício alimentar no mundo acontece dentro de casa.
“Só sobrou uma batata, vai para o lixo”; “Estas maçãs têm um aspeto estranho, prefiro levar bananas”; “O molho de tomate foi aberto há dois dias, ainda estará bom?”. Invariavelmente, pensamentos como estes são frequentes, definem as nossas decisões relativamente à comida que compramos e que consumimos, e contribuem para o desperdício alimentar.
Deitar uma singela porção de arroz no lixo pode parecer um ato inconsequente, mas, sempre que o fazemos, estamos a contribuir de forma indireta para a emissão de gases com efeito de estufa, a perder dinheiro e a agravar as desigualdades mundiais no acesso a comida segura.
Desperdício alimentar: tudo se perde, nada se transforma
Em 2021, cada habitante da União Europeia (UE) desperdiçou, em média, 131 kg de alimentos. A maior parte – 70 kg por habitante – foi gerado em casa. Na imagem abaixo, poderá descobrir quais são as categorias de alimentos mais desperdiçados na União Europeia. Será que fazem parte do seu frigorífico ou despensa?
Frutas e legumes 46%; Cereais 12%; Batatas, raízes e tubérculos 11%; Carne 11%; Oleaginosas e leguminosas 10%; Laticínios 5%; Peixe 3%; Ovos 2%. Fonte: Centro de Conhecimento para a Bioeconomia da Comissão Europeia (desperdício alimentar gerado na UE-28 por grupo de alimentos, 2011).
Cada categoria inclui vários alimentos. Na primeira, estão as frutas e produtos hortícolas, desde as bananas às cebolas ou tomates. Os cereais incluem trigo, arroz, milho, cevada, centeio, aveia, entre outros. Além da batata, que é um tubérculo, a terceira categoria inclui alimentos como batata-doce, inhame e beterraba. As sementes oleaginosas e leguminosas incluem, por exemplo, frutos de casca rija e sementes de girassol. A categoria da “carne” diz respeito às aves e às carnes vermelhas, e o peixe inclui marisco. Para os laticínios considera-se, sobretudo, o leite.
Quais são as causas e consequências do desperdício alimentar?
A nível doméstico, estas são as principais causas do desperdício alimentar:
- falta de planeamento de refeições;
- compra excessiva e impulsiva de alimentos;
- armazenamento inadequado;
- não utilizar sobras e restos;
- não saber interpretar rótulos alimentares.
O desperdício alimentar tem consequências a vários níveis:
- Desperdiçar comida é desperdiçar os recursos naturais do planeta: quando um alimento acaba no lixo, todos os recursos que foram necessários para o produzir (como, água e energia) são igualmente desperdiçados.
- Desperdiçar comida é contribuir as alterações climáticas: o descarte de alimentos implica a emissão de gases com efeito de estufa, tendo impacto nas alterações climáticas – a perda e o desperdício de alimentos gera 8% a 10% das emissões globais de gases com efeito de estufa.
- Desperdiçar comida é desperdiçar dinheiro: quanto mais alimentos colocamos no lixo, mais aumentamos a despesa familiar no final do mês. Além disso, se existe uma produção “em vão”, toda a cadeia de abastecimento é financeiramente afetada, o que pode comprometer a disponibilização de alimentos a preços acessíveis – só na Europa, o desperdício alimentar equivale a cerca de 132 mil milhões de euros anuais.
- Desperdiçar comida é acentuar as desigualdades no acesso à alimentação: de acordo com o relatório The State of Food Security and Nutrition in the World 2023, publicado pela FAO e um conjunto de outras organizações internacionais, entre 691 e 783 milhões de pessoas em todo o mundo passaram fome no ano de 2022 – desperdiçar comida só torna este desequilíbrio mais acentuado.
Como combater o desperdício alimentar em casa
O ato de comer é, possivelmente, um dos maiores prazeres de um ser humano. O acesso a alimentação segura e de qualidade é um direito, que está vedado a cerca de 783 milhões de pessoas. Mas todos temos também o dever de respeitar os alimentos que colocamos no prato.
O combate ao desperdício alimentar inclui duas grandes tarefas: produzir de forma responsável e garantir que o consumo é feito de forma consciente, aproveitando, sempre que possível, os alimentos na sua totalidade.
Fique com algumas dicas para reduzir o desperdício alimentar em casa:
-
Planear refeições
Pode requerer alguma paciência, mas a carteira e o planeta vão agradecer – porque não fazer esta tarefa em família? Por exemplo, se decidir no fim de semana quais serão as refeições principais da semana seguinte, saberá que alimentos precisa de comprar. Sem um plano, poderá mais facilmente adquirir produtos sem saber exatamente o que fazer com eles, levando a que fiquem “ao abandono” no frigorífico ou na despensa até passarem da validade.
-
Fazer um inventário e uma lista de compras
Saiba todos os produtos que tem no frigorífico, no congelador e na despensa. Depois, e também com base no planeamento de refeições, faça uma lista de compras, para garantir que compra apenas o necessário.
-
Armazenar comida da forma correta
Cada alimento tem as suas necessidades de armazenamento para garantir uma “vida” mais longa. Por exemplo, certas frutas, como a banana, não devem ir para o frigorífico. E, sabia que ajuda ter uma maçã junto às batatas, para evitar que germinem? Descubra também como pode congelar alimentos.
-
Nova vida para sobras e restos
Tudo o que sobra, desde a fatia de pão ao resto de lasanha, pode ser congelado ou aproveitado para uma nova refeição deliciosa e nutritiva. Espreite algumas das nossas receitas para combater o desperdício alimentar.
-
Utilizar cascas, caules, folhas e ramas
Pode parecer estranho, mas acredite que tudo pode ser aproveitado. Por exemplo, os caules dos brócolos podem ser usados na sopa, ou as cascas de batata podem dar origem a deliciosas chips.
-
Atenção às porções
Quem nunca cozinhou demasiado arroz ou massa? As embalagens já têm a indicação da porção mais indicada dependendo do número de pessoas que irá servir. Mesmo quando sobra, já sabe que há solução.
-
Pickling e compostagem
Pickling, ou a arte de conservar fruta e legumes em vinagre, é uma das muitas soluções para dar uma nova vida a estes alimentos. Já a compostagem, significa utilizar os resíduos alimentares como adubo para a terra, dando vida a novas culturas que queira criar em casa.
-
Ler os rótulos com cuidado
Muitas vezes, os alimentos que indicam “consumir de preferência antes de” são seguros para consumo após essa data. Saiba como interpretar rótulos alimentares e repare se o produto apresenta algum dano ou cheiro estranho e prove antes de o considerar como um “caso perdido”.
-
Usar a criatividade
Congelar pão para as torradas matinais ao longo da semana? Fruta e legumes para sumos naturais, gelados caseiros ou para uma nutritiva sopa? Fazer croquetes com os restos do arroz? Aproveitar a água onde cozeu as cenouras para um caldo de legumes? Há muito para fazer na cozinha, sem desperdício alimentar.