Uma revolução que começa na terra

A revolução agrícola que teve lugar nos anos 70 do século XX mudou para sempre a forma como o mundo se alimenta. Através da introdução de novas espécies vegetais e animais nos terrenos e da utilização de métodos tecnológicos, foi possível aumentar a produção de alimentos e diversificar a oferta como nunca.

Somos mais de 8 mil milhões de pessoas no planeta, e sem agricultura não teríamos capacidade de subsistir.

Ilustração de família (mulher, homem e criança) com caixas de vegetais.

Se antigamente era mais comum existir um contacto direto entre consumidor e produtor, com os alimentos a chegar à mesa quase diretamente da terra – o que hoje apelidamos de “farm to table” –, atualmente já não é bem assim. A agricultura precisou de evoluir para uma produção industrial e a rotina essencialmente urbana dos consumidores levou a um distanciamento em relação à origem e à forma como são produzidos os alimentos.

Da agricultura intensiva à agricultura sustentável

A estratégia adotada para responder às necessidades alimentares a nível mundial foi a agricultura intensiva, cujo foco é a máxima produtividade.

Para isso, utilizam-se métodos industriais e inovações tecnológicas – como irrigação intensiva, pesticidas e inseticidas químicos, maquinaria para tratamento de solos, expansão “forçada” de novas áreas através da desflorestação e conversão dos solos, entre outros.

De forma geral foi possível aumentar a produção, desenvolver a economia e reduzir o número de pessoas que passavam fome no mundo. Um dos preços a pagar por isto são os impactes ambientais. A agricultura intensiva potencia os problemas de gestão e contaminação da água e, devido às monoculturas de grande extensão, contribui para a perda de biodiversidade, para a desflorestação e para a desertificação dos solos.

A agricultura intensiva também contribuiu para a perda do conceito de sazonalidade e para o aumento do desperdício alimentar, resultado do desajuste entre a oferta (produção) e a procura (consumo), sobretudo nos países mais desenvolvidos.

Ou seja, os métodos intensivos de agricultura contribuem de forma mais significativa para a degradação dos recursos naturais, comprometendo o acesso à alimentação no futuro.

Uma (nova) revolução agricultura sustentável

Estima-se que a população global chegue aos 10 mil milhões de pessoas em 2050. No entanto, segundo o World Economic Forum, mais de metade dos solos agrícolas já está degradada. Qual é então a solução? Sabendo-se que a agricultura não sobrevive sem biodiversidade, solos férteis e uma gestão equilibrada dos recursos naturais, é do interesse de todos adotar alternativas à produção intensiva.

A agricultura sustentável compreende todos os métodos de produção agrícola que respondam às necessidades do presente sem comprometer as gerações futuras. Deve ser economicamente viável, de forma a garantir a subsistência de todos os trabalhadores e comunidades que dependem do setor, e deve ser social e ambientalmente responsável, protegendo e valorizando os recursos naturais.

Eis alguns exemplos cujos impactes ambientais são mais reduzidos comparativamente à agricultura intensiva:

  • Agricultura regenerativa

    Envolve a regeneração do ecossistema como um todo, sendo considerada uma das transições agrícolas mais relevantes. O foco é a “saúde” dos solos, pretendendo aumentar a biodiversidade no ecossistema, melhorar a qualidade da terra e da água, e permitir o sequestro de carbono pelos solos, o que pode ajudar a mitigar os impactes negativos das alterações climáticas. Além disso, pretende capacitar os agricultores para que utilizem e conservem os recursos naturais de forma sustentável. A rotação de culturas, a agricultura biológica e a compostagem são algumas das práticas usadas.

  • Agricultura biológica (ou orgânica)

    Recorre a substâncias e a processos naturais, sendo proibido o uso de pesticidas de síntese, salvo exceções (utilizações especiais) nas quais nunca são aplicados de forma direta sobre as culturas e/ou solos, e o uso de organismos geneticamente modificados (OGM). A União Europeia criou um logótipo que certifica a produção biológica de produtos alimentares.

  • Rotação de culturas

    Consiste no cultivo de diferentes espécies de alimentos, no mesmo espaço e de forma rotativa, facilitando o controlo de pragas, reduzindo a necessidade de fertilizantes e aumentando a produtividade e a conservação do solo.

  • Agricultura de precisão

    Recorre a tecnologias baseadas em dados, como o GPS, para gerir culturas de forma otimizada, tendo em conta necessidades específicas, e reduzir a utilização de fertilizantes, pesticidas e água.

Ilustração de homem e mulher a utilizar técnicas de agricultura de precisão em campo agrícola.

O Pacto Ecológico Europeu e a estratégia “Do Prado ao Prato”: cultivar a mudança

Na Europa, estão a ser implementadas estratégias para a transição de sistemas agrícolas mais sustentáveis.

O Pacto Ecológico Europeu, lançado em 2019, é um conjunto de políticas elaborado pela Comissão Europeia com o intuito de se alcançar a neutralidade climática da União Europeia (UE) até 2050, intervindo em áreas como indústria, energia, construção civil, mobilidade, biodiversidade, poluição, agricultura e sistemas alimentares. Neste âmbito, há um plano de ação em prática que visa dedicar 25% da superfície agrícola à agricultura biológica até 2030.

A estratégia dedicada à agricultura e aos sistemas alimentares chama-se Do Prado ao Prato, ou em inglês, Farm to Fork.

Vários garfos com fruta e vegetais.

Este programa prevê alterações a todo o sistema alimentar, desde a produção e transporte de alimentos, a apoios a produtores e agricultores. O objetivo é acelerar a transição dos sistemas alimentares atuais para um sistema sustentável que:

  • tenha um impacto ambiental neutro ou positivo;
  • ajude a mitigar as mudanças climáticas e os seus impactos;
  • permita reverter a perda de biodiversidade;
  • assegure a segurança alimentar, a nutrição adequada e a saúde pública;
  • preserve a acessibilidade económica destes alimentos, enquanto gera competitividade na UE e promove o comércio justo.

Algumas das metas propostas pelo programa, até 2030, são:

  • Estabelecer 25% de toda a agricultura da UE como agricultura biológica;
  • Reduzir o uso de pesticidas em 50% e o uso de fertilizantes em 20%;
  • Reduzir o desperdício alimentar em 50%.

São medidas como estas que permitem uma transição gradual para processos agrícolas nos quais a sustentabilidade está enraizada. Em casa, nas nossas escolhas diárias, também podemos fazer a diferença. Por exemplo, incluir produtos locais e biológicos nas compras, ou optar por alimentos sazonais. Descubra como os hábitos alimentares impactam o planeta.

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