Uma nova vida para o óleo alimentar usado
Uma das grandes dores de cabeça em qualquer cozinha é o óleo alimentar já utilizado. Depois de ser usado para fritar alimentos, o que é que se faz com esse óleo?Deve guardar-se? Ou pode ser deitado pelo cano abaixo? Será que se pode reutilizar? A incerteza do que fazer com ele quase que o faz perder o apetite para aqueles pastéis de bacalhau que acabou de fazer. Se se revê nesta imagem, saiba que o óleo que usou para fritar os pastéis de bacalhau pode ser útil – especialmente para o ambiente.
Estamos a falar do biodiesel, que pode representar uma redução de até 80% nas emissões de carbono face ao diesel convencional. O biodiesel é um combustível de origem biológica não fóssil – que pode ser produzido através de óleos alimentares usados, por exemplo –, renovável e biodegradável.
O problema: deitar fora óleo alimentar de qualquer maneira
Sabia que mais de 6 milhões de toneladas de óleo alimentar usado poderiam ser recolhidas para transformação na Europa todos os anos? A estimativa é feita pela União Europeia e é quase 2,5 vezes mais do que a quantidade atualmente recolhida. Isto significa que há quase 3,6 milhões de toneladas de óleo de cozinha que não estão a ser devidamente tratadas depois de servirem o seu propósito em cozinhas de toda a Europa. E grande parte destes milhões de toneladas podem acabar nos esgotos – com consequências desastrosas para o ambiente.
Apenas 1 litro de óleo alimentar usado pode poluir até 1 milhão de litros de água – quase metade do volume de uma piscina olímpica. Ao mesmo tempo, o óleo descartado nos esgotos pode ainda causar problemas nas estações de tratamento de águas residuais, já que a acumulação de gordura pode obstruir os filtros de limpeza das ETAR.
Se for descartado no lixo comum, o óleo alimentar usado é encaminhado para aterros sanitários, onde se irá degradar na ausência de oxigénio. Este processo de biodegradação acaba, no entanto, por emitir gases com efeito de estufa, como o metano. Sempre é melhor que atirá-lo pelo cano do esgoto, mas há outras opções em jogo.
Como recolher e reciclar óleo alimentar usado
Depois de ter usado óleo para cozinhar, deixe-o arrefecer completamente. Coloque-o numa garrafa de plástico vazia e guarde-a bem fechada num lugar fresco e seco. Quando a garrafa estiver cheia, certifique-se que está bem fechada e coloque-a num oleão.
Os oleões são pontos de reciclagem de óleos alimentares usados e geralmente fazem parte de um ecoponto. Mais de 250 lojas Pingo Doce já têm disponíveis oleões para que possa desfazer-se do óleo alimentar usado, de consciência tranquila.
Nos oleões só devem ser colocados óleos alimentares usados, sejam de frituras, azeites ou óleos de conservas. Os óleos lubrificantes de motores não devem – em caso algum! – ser depositados em oleões juntamente com os óleos alimentares usados.
Não utilize garrafas ou frascos de vidro para armazenar o óleo alimentar usado. O vidro tem maior probabilidade de partir ao ser colocado no oleão ou durante o transporte até ao centro de tratamento. Use antes aquela garrafa de água que comprou à pressa na hora de almoço porque se esqueceu do seu recipiente reutilizável.
O que acontece ao óleo alimentar usado quando encaminhado para transformação?
Havendo possibilidade de separação, os óleos alimentares usados podem ser usados para fabricar sabão natural. Em caso de não ser possível a separação, são usados para fazer biodiesel.
Cada 1.000 litros de óleos alimentares usados rendem cerca de 950 litros de biodiesel. Para produzir biodiesel podem usar-se vários métodos. No mais comum, o óleo alimentar usado passa por um processo químico chamado transesterificação. Os produtos finais são o biodiesel e, como subproduto, a glicerina. Enquanto o biodiesel serve de combustível a carros, autocarros, camiões, comboios e até aviões, a glicerina pode ser aproveitada para produção de sabão. Economia circular, isso mesmo.
Em 2020, foram recolhidas e enviadas para valorização mais de 620 toneladas de resíduos depositados por clientes nas lojas Pingo Doce e Recheio (em Portugal), Biedronka (na Polónia) e nas lojas Ara (na Colômbia), incluindo mais de 100 toneladas de óleos alimentares usados.