O papel das joaninhas na biodiversidade

A lengalenga é outra, mas esta também acerta. Talvez sejam insetos com o ar mais amistoso do mundo, mas são também implacáveis predadores. Vermelhas, com os seus famosos pontos pretos, as joaninhas são muito importantes para o equilíbrio dos ecossistemas e diz-se trazerem boa sorte a quem as encontra.

A sua classificação biológica é diversa, embora seja mais simples de perceber do que a árvore genealógica da Guerra dos Tronos. Nativas da Europa, Ásia e África, as joaninhas são insetos coleópteros, fazem parte da família Coccinellidae, partilhando parentesco com os escaravelhos e os besouros. Existem mais de 5.000 espécies de joaninhas.

Tal como a borboleta, a joaninha passa por uma metamorfose: dos ovos surgem larvas que dão lugar à fase de pupa e, finalmente, à fase adulta.

Desde o estado de larva à fase adulta, as joaninhas estão constantemente a alimentar-se de outros pequenos insetos, desempenhando, por isso, um papel importante no controlo de pragas e na proteção das culturas agrícolas.

Um inseto cheio de pinta

No nosso imaginário habitam, sobretudo, joaninhas arredondadas, vermelhas e com pintas pretas. No entanto, podem assumir uma variedade de cores, sendo a mais comum a vermelha e a preta ou a amarela e a preta, podem ter listas em vez de pintas e o seu formato pode ser arredondado ou oval. As mais comuns são as que têm 7 ou 11 pintas, sendo que algumas espécies podem ter até 22 pintas pretas.

Em Portugal continental distribuem-se um pouco por todo o território e têm uma longevidade de dois a três anos. Apesar de poderem existir em diferentes habitats, como florestas e bosques, é em hortas, jardins e zonas agrícolas que as joaninhas preferem estar – e é onde encontram o seu alimento favorito.

Inofensivas, mas defensivas

Fãs da luz solar e do clima temperado, são insetos diurnos, sendo mais habitual encontrarmos joaninhas durante os meses de primavera e de verão, já que no inverno costumam hibernar em locais resguardados, como plantas de folhagem densa ou debaixo de pedras. Um inseto pacato, que gosta de sol e com um ar simpático… Será de desconfiar?

O aspeto da joaninha é estratégico, nomeadamente a sua cor vermelha, que funciona como um sinal de alerta para os predadores – é suposto afastá-los, ao transmitir a mensagem de que podem ser venenosas. Com o mesmo objetivo, soltam um líquido de odor intenso e, quando se sentem ameaçadas, fingem-se de mortas. Mas estes são apenas mecanismos de defesa contra os seus predadores porque, na verdade, as joaninhas são inofensivas para os humanos.

Uma solução natural para o controlo de pragas

As joaninhas são insetos predadores que raramente se alimentam de plantas. O seu menu favorito inclui pulgões, moscas-da-fruta ou ácaros, entre outras pragas nocivas para as plantas e para culturas como as de citrinos, favas, milho ou ervilhas. Por esta razão, as joaninhas são muito apreciadas na agricultura, especialmente na agricultura biológica, uma vez que contribuem de forma natural para o controlo de pragas.

Junto a estas colónia de pulgões e de outras pragas que se alimentam de plantas, as joaninhas põem centenas de ovos cujas larvas, assim que eclodem, começam a alimentar-se, contribuindo para a preservação das plantações.

Como atrair joaninhas para a sua horta ou jardim

As joaninhas gostam de afídeos (pulgões das plantas), mas também são atraídas pelo pólen das flores, um alimento importante nos meses mais frios, e por plantas que tenham campânula, como as túlipas e os lírios, pois captam a água e mantêm o ambiente fresco. Assim, poderá plantar na sua horta ou jardim este tipo de flores e ainda ervas aromáticas como salsa, hortelã e coentros.

Além de atrair joaninhas, tornará o seu jardim ainda mais bonito ou o seu cantinho de ervas aromáticas mais completo.

Joaninha como sinónimo de sorte

Em muitas culturas, são várias as superstições e histórias associadas à joaninha, todas com um denominador comum: a joaninha é considerada um presságio de boa sorte e, mais recentemente, de um jardim ou de uma horta saudáveis.

Este significado foi, maioritariamente, atribuído e veiculado pelos agricultores desde tempos antigos. Perante a possibilidade das suas plantações ficarem arruinadas, o que causaria o colapso financeiro das aldeias, vilas e comunidades que da agricultura dependiam, viram nas joaninhas a sua “salvação”.

Pelo seu papel regulador no ecossistema, muitas organizações e campanhas ambientais adotam a joaninha como logótipo.

Da próxima vez que se cruzar com uma joaninha, já lhe poderá atribuir todo o seu valor.