O que é a desflorestação?
A desflorestação é a perda ou o desaparecimento permanente de área florestal, geralmente de forma deliberada e numa escala significativa. Por norma, ocorre para converter áreas florestais em terras agrícolas, pastagens, terrenos para desenvolvimento urbano, exploração madeireira ou mineração.
No espaço de apenas 30 anos, entre 1990 e 2020, o planeta perdeu 420 milhões de hectares de floresta – uma área que corresponde, sensivelmente, à dimensão da União Europeia. Devido aos impactos negativos que tem no ambiente, a desflorestação é uma preocupação global pois, quando as florestas são destruídas, os ecossistemas são perturbados e entram em desequilíbrio, sendo as principais consequências a perda de biodiversidade, a emissão de gases de efeito estufa, a degradação dos solos e a alteração dos padrões climáticos.
As florestas que restam são responsáveis por absorver um terço do dióxido de carbono libertado anualmente pela queima de combustíveis fósseis e por regular o ciclo da água, entre outras funções. Então, por que razão é que continuamos a destruí-las? A resposta é complexa.
Quais são as causas da desflorestação?
A população mundial continua a aumentar e as suas necessidades também – motivo pelo qual, em algumas regiões, as florestas são encaradas como um entrave à expansão de zonas urbanas, à construção de estradas ou infraestruturas, à produção de alimentos ou ao acesso a matérias-primas. Estes são os principais motivos para a ocorrência de desflorestação:
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Agricultura intensiva
A desflorestação visa muitas vezes a conversão da vegetação considerada nativa ou virgem em área agrícola – algo que acontece em maior escala na América do Sul, na África Central e no Sudeste Asiático. Entre estes cultivos, existem quatro matérias-primas que se destacam pela sua associação à desflorestação: o óleo de palma, a soja, o papel e a madeira e o gado bovino.
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Produção de óleo de palma
Presente numa grande variedade de produtos, estima-se que a indústria do óleo de palma possa valer mais de 105 mil milhões de euros até 2030.
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Produção de soja
A produção global de soja tem crescido de forma exponencial, tendo ultrapassado os 360 milhões de toneladas plantadas em mais de 125 milhões de hectares, na época de 2018/2019. Mais de 80% desta produção está concentrada em três países: Brasil, Estados Unidos e Argentina. A soja é utilizada na produção alimentar, para desenvolver alternativas à proteína animal, e na produção não-alimentar, como o biodiesel. No entanto, mais de 75% da soja mundial é usada na alimentação animal.
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Produção de gado
A desflorestação da Amazónia, no Brasil, representa um dos principais desafios a nível de conservação e reconversão das florestas – estima-se que 80% da desflorestação na Amazónia tenha origem na expansão das pastagens para a produção de gado. O mesmo acontece em países africanos e da América do Sul.
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Produção de papel e madeira
A indústria de papel depende da celulose, que é extraída a partir das árvores. O impacto ambiental e social desta produção pode ser minimizado com práticas sustentáveis, como a certificação florestal e o uso de fontes de fibra reciclada. No caso da madeira, esta matéria-prima é sobretudo procurada pela sua utilização na área da construção.
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Outras matérias-primas
Também a produção de matérias-primas como a borracha, o café, o cacau e o açúcar, fazem parte das causas da desflorestação nas regiões tropicais. A produção de carvão e a extração ilegal e insustentável de minerais, gás ou petróleo, são outros exemplos.
Quais as consequências da desflorestação?
A desflorestação afeta as comunidades locais, o ambiente, o solo e pode até abrir caminho para próximas pandemias.
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Comunidades locais
A desflorestação afeta diretamente a vida de 1,6 mil milhões de pessoas cuja subsistência depende das florestas. Para muitas populações, as florestas são fonte de alimentação, de acesso a água potável, combustível ou até mesmo de espiritualidade.
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Perda de biodiversidade
Perder florestas também significa perder habitats. 80% da biodiversidade terrestre vive em florestas, o que significa que a desflorestação, aliada às mudanças drásticas de temperatura ou à erosão dos solos, deixa muitas espécies sem lugar para viver e se reproduzir, colocando em causa a sua sobrevivência. Há um risco acrescido para as aves migratórias, que dependem de habitats florestais contínuos ao longo das suas rotas. A desflorestação pode interrompê-las e reduzir as áreas de paragem e alimentação disponíveis, com risco de extinção destes animais.
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Alterações climáticas
A degradação florestal é simultaneamente uma causa e um efeito das alterações climáticas. Com o aquecimento global, a mudança rápida de estações e a subida do nível do mar, as florestas tropicais ficam mais secas, destruindo de forma irreversível a biosfera envolvente. Quanto mais fraca fica a floresta, mais vulnerável se torna à sua destruição, nomeadamente através de incêndios.
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Emissões de gases de efeito estufa
A desflorestação é uma das principais causas do aumento das emissões de gases de efeito estufa. Quando as árvores são destruídas, há uma maior libertação de dióxido de carbono para a atmosfera e reduz-se a capacidade de absorção do gás da atmosfera por meio da fotossíntese. Dito doutro modo, não só o dióxido de carbono aumenta, como o que já existe não é removido.
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Erosão do solo
Quando as raízes que ancoram o solo são removidas, há uma maior suscetibilidade à sua erosão e instabilidade, com risco acrescido de estragos em propriedades e infraestruturas.
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Pandemias
A desflorestação pode promover o surgimento de pandemias, cada vez mais adaptáveis ao meio envolvente. Olhando para os últimos 40 anos, nota-se um aumento acelerado de doenças infeciosas transmitidas de animais para humanos, que rapidamente se tornaram epidémicas, como a raiva, a dengue, a malária (também conhecida por paludismo), a doença do vírus ébola ou a mais recente pandemia Covid-19 (provocada pelo vírus SARS-CoV-2).
Como combater a desflorestação?
Para combater ou evitar a desflorestação, produtores, fabricantes e retalhistas desenvolvem estratégias conjuntas tendo em vista o fim da destruição das florestas tropicais e a perda de habitats. Estas estratégias podem passar pela substituição, monitorização e rastreabilidade das matérias-primas com risco de desflorestação nos processos de fabrico ou por uma certificação que garante uma origem mais sustentável dos produtos que adquirem.
Guia para escolher um produto certificado
Na hora de encher a despensa em casa, escolher produtos certificados quanto às suas matérias-primas, ou seja, cujas práticas de produção contribuem para minimizar ou evitar o impacto da desflorestação, é uma das formas de cada um fazer a sua parte. Estes são os selos que deverá procurar nas embalagens:
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FSC (Forest Stewardship Council)
Esta certificação garante que a madeira e os produtos derivados foram produzidos de forma ambientalmente responsável em todas as fases da cadeia de valor, desde a floresta até ao consumidor. O FSC promove uma gestão sustentável das florestas em todo o mundo.
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RSPO (Roundtable on Sustainable Palm Oil)
Com este selo, os consumidores têm a garantia de que o óleo de palma foi produzido de acordo com critérios ambientais, sociais e económicos sustentáveis. É o caso dos sabonetes Pingo Doce e Amanhecer, os primeiros produtos nacionais certificados pela RSPO.
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PEFC (Programa para o Reconhecimento dos Esquemas de Certificação Florestal)
A certificação PEFC começa ao nível da floresta, garantindo que a mesma é gerida de acordo com os requisitos de sustentabilidade ambiental, social e económica, e estende-se a toda a cadeia de abastecimento, garantindo a rastreabilidade dos produtos florestais desde a origem até o consumidor final.
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Rainforest Alliance Certified
A Rainforest Alliance é uma das certificações mais conhecidas pelos consumidores. Garante que a produção respeita os direitos humanos e laborais, as florestas nativas e a biodiversidade, evitando contribuir para as alterações climáticas e fomentando o desenvolvimento das comunidades locais. O Pingo Doce conta com dezenas de produtos de Marca Própria que contêm cacau com esta certificação, como o pudim proteico de chocolate Go Active e o leite achocolatado sem lactose Pingo Doce.
Jerónimo Martins no combate à desflorestação
Enquanto membro da Roundtable on Sustainable Palm Oil (RSPO) e da Round Table on Responsible Soy (RTRS), o Grupo Jerónimo Martins mapeia desde 2014 a origem de commodities com risco de desflorestação, nos produtos de Marca Própria e perecíveis vendidos nas suas lojas em Portugal, Polónia e Colômbia. Quando utilizadas, estas matérias-primas devem ser, o mais possível, de origem sustentável.
Em 2023, o Grupo Jerónimo Martins foi reconhecido como o retalhista alimentar a nível mundial com melhor classificação pelo Carbon Disclosure Project (CDP), pelo quarto ano consecutivo, nomeadamente, no que à gestão de commodities associadas à desflorestação diz respeito. Foi obtida a classificação de A- (nível de liderança) nas quatro matérias-primas avaliadas: óleo de palma, soja, carne bovina e papel/madeira.
Consulte aqui as medidas implementadas pelo Grupo Jerónimo Martins.