Uma breve apresentação das baleias
Abaixo da superfície do mar, percorrendo cerca de 2.000 metros em direção às suas profundezas, encontramos as baleias. Mamíferos de um tamanho impressionante – podem chegar aos 30 metros de comprimento e pesar 200 toneladas – as baleias navegam por todos os oceanos e são excelentes comunicadoras, através de sons misteriosos que percorrem vastos quilómetros. A imensidão dos oceanos e a natureza migratória das baleias tornam o estudo destes animais extremamente desafiador.
As várias espécies de baleias podem ser divididas em dois grandes grupos:
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Baleias dentadas (Odontoceti)
Estas baleias têm dentes e, geralmente, são predadoras ativas. As duas espécies mais conhecidas são a cachalote (Physeter macrocephalus), famosa pelo espermacete, uma substância gorda e cerosa produzida em cavidades nas suas cabeças e que ajuda a focar o som, e a orca (Orcinus orca), que se destaca pelo padrão de cores preto e branco, inteligência e sociabilidade.
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Baleias de barbas (Mysticeti)
Este tipo de baleias filtra o que come através de placas de queratina (barbas). Fazem parte deste grupo a baleia-azul (Balaenoptera musculus), o maior animal do planeta, e a baleia-de-bossas (Megaptera novaeangliae), conhecida pelos saltos acrobáticos e cânticos misteriosos.
Tal como os outros mamíferos, as baleias respiram ar (razão pela qual vêm à superfície), amamentam as suas crias e têm sangue quente. Possuem uma camada espessa de gordura que as protege das águas frias; contudo, não é possível protegerem-se de todas as ameaças e o estado de conservação de algumas espécies, como a baleia-azul, é considerado “Em Perigo”.
Há outro facto cuja importância pode ser comparável à dimensão destes animais: as baleias desempenham um papel crucial no equilíbrio dos ecossistemas marinhos e na regulação do clima do planeta.
O papel das baleias no combate às alterações climáticas
Uma das funções mais fascinante das baleias é a sua capacidade de capturar carbono da atmosfera – algo essencial no combate às alterações climáticas.
As baleias são responsáveis pela captura e armazenamento de carbono das seguintes formas:
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Migração de nutrientes
As baleias realizam das migrações mais longas do planeta, que podem atingir quase 20 mil quilómetros. Deslocam-se de áreas de alimentação ricas em nutrientes para áreas de reprodução com menos nutrientes, onde acasalam e dão à luz. Durante estas migrações, as baleias vão expulsando os nutrientes que consomem sob a forma de fezes e urina, tanto ao longo das rotas migratórias como nas zonas de reprodução. As fezes das baleias são ricas em nutrientes, como o ferro, essenciais para o crescimento do fitoplâncton. Para além de ser responsável por cerca de 50% da produção de oxigénio no planeta, o fitoplâncton serve de alimento para muitas espécies marinhas, além de absorver grandes quantidades de dióxido de carbono durante a fotossíntese. Quando o fitoplâncton morre, parte do carbono que absorveu é armazenado no fundo do mar.
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Movimento vertical
As baleias movem-se entre diferentes colunas de água, desde as profundezas do oceano até à superfície e vice-versa. Este comportamento ajuda a misturar as águas, o que contribui para uma boa circulação de nutrientes, estimula o crescimento do fitoplâncton e move o carbono da superfície para as profundezas do oceano, um ciclo de carbono essencial para a regulação do clima do planeta.
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Biomassa das baleias
Ao longo da vida, as baleias acumulam uma enorme quantidade de carbono nos seus corpos. Quando morrem, afundam-se no oceano, levando consigo esse carbono. É um fenómeno conhecido como “a queda de baleia” e permite armazenar carbono durante centenas a milhares de anos, o que ajuda a manter os níveis de dióxido de carbono na atmosfera mais baixos.
Quais as principais ameaças às baleias?
Muitas das ameaças que as baleias enfrentam resultam das atividades humanas. Conheça as principais ameaças:
Captura comercial e caça ilegal
No início do século XIX, teve início um período de caça às baleias que durou vários anos, com o objetivo de obter carne, gordura, barbatanas e outros produtos. O óleo extraído do animal era um recurso valioso, utilizado para iluminar as ruas e as casas, como lubrificante e na produção de sabão, velas e margarinas – uma atividade comercial que conduziu a espécie quase à extinção.
Só em 1986, quase dois séculos depois, é que foi criada a Comissão Internacional da Baleia, que implementou uma moratória global sobre a caça comercial de baleias para permitir a recuperação da espécie. Portugal tornou-se um exemplo internacional ao ser um dos primeiros países a proibir a caça à baleia de forma voluntária no início dos anos 80.
Principalmente na década de 1930, a captura de baleias alimentou a economia dos Açores e a da Madeira; no Continente, a caça ocorria sobretudo entre o cabo de São Vicente, no sul do país, e o cabo Carvoeiro, na região oeste. Tudo mudou quando o país decidiu proibir a caça à baleia – em 1981 na Madeira e em 1984 nos Açores. Entretanto, 40 anos mais tarde, as coisas mudaram e a observação dos cetáceos gigantes no seu ambiente natural é uma das atividades turísticas mais importantes.
Apesar das mudanças da lei, alguns países, como o Japão, continuam a praticar a caça comercial de baleias, alegando fins científicos ou culturais.
Poluição marinha
Os plásticos – e os microplásticos – também “habitam” os oceanos e, quer por ingestão acidental, quer pela libertação de químicos tóxicos nas águas, ou ainda devido a ficarem presas ou estranguladas por exemplo em redes de pesca, as baleias e outros seres marinhos sofrem as consequências. Também pesticidas, herbicidas, poluentes industriais e metais pesados, como mercúrio e chumbo, podem acabar nos oceanos, contaminando a cadeia alimentar marinha.
Alterações climáticas
As alterações climáticas e o aquecimento global têm consequências no mundo aquático, ao tornarem as águas mais quentes e ácidas e ao influenciarem os fluxos migratórios. Estes fatores prejudicam a alimentação das baleias, pois as suas presas deslocam-se para outras áreas, e também os seus níveis de reprodução. A acidificação do mar tem também impacto nos recifes de corais e no fitoplâncton disponível.
Como podemos preservar as baleias?
Apesar das ameaças que enfrentam, há pequenos gestos que todos podemos adotar para contribuir para a proteção das baleias e dos ecossistemas marinhos.
- Reduzir o uso de plásticos, privilegiar produtos reutilizáveis e fazer a reciclagem.
- Participar em limpezas de praias para remover resíduos do ambiente marinho.
- Dar um fim seguro a produtos químicos, para evitar que acabem nos oceanos.
- Viajar de forma responsável e apoiar operadores turísticos que sigam práticas sustentáveis com os animais marinhos.
- Incluir no dia a dia pequenas ações para reduzir a pegada ecológica, como poupar água, eletricidade e gás em casa.
- Apoiar organizações que protegem as baleias e os oceanos através de donativos ou voluntariado.
Curiosidades sobre baleias, gigantes do mar
- Estima-se que, atualmente, existam cerca de 1,3 milhões de baleias – antes da época da caça à baleia, haveria entre 4 e 5 milhões de baleias;
- A baleia-azul é o maior animal conhecido que já existiu na Terra. Pode atingir 30 metros de comprimento e pesar até 200 toneladas.
- Algumas espécies de baleias têm vidas surpreendentemente longas, chegando a viver mais de 200 anos;
- Para dormir, as baleias desligam metade do cérebro (a outra metade tem de ficar “acordada”, para se lembrar de ir à superfície respirar) e, para que todo o cérebro descanse, vão trocando o lado “adormecido”.
- A alimentação das baleias inclui lula, polvo, caranguejo e pequenos peixes;
- Os Açores são um dos maiores santuários de baleias do mundo e um dos locais de eleição para a sua observação;
- As baleias conseguem suster a respiração debaixo de água durante longos períodos, que variam consoante a espécie – a baleia-de-bico-de-Cuvier fez o mergulho mais longo alguma vez registado, com a duração de 222 minutos, ou seja, quase quatro horas.