Spoiler Alert: Este artigo é mais do que isso; é também um desafio que lhe lançamos, para que o seu ano comece com mudanças positivas. Porquê? Contamos-lhe de seguida.

O que é a pegada ecológica?

A pegada ecológica é um indicador de sustentabilidade ambiental que mede o impacto das atividades humanas no planeta. Trocado por miúdos, serve para avaliar a quantidade de recursos necessários para sustentar a população e a economia, tanto ao nível da produção e do consumo como da absorção dos resíduos gerados. A medição é feita em hectares globais (gha), uma unidade de medida que representa a quantidade mundial de produção e de assimilação de resíduos gerada por um hectare de terras e águas produtivas, anualmente.

Para que não esgotemos os recursos do planeta, a pegada ecológica deveria ser igual ou inferior à biocapacidade da Terra, ou seja, à capacidade de regeneração dos recursos naturais. Mas, nem sempre é isso que acontece.

Em 2023, a pegada ecológica portuguesa per capita foi de 4,40 gha, sendo que a biocapacidade per capita de Portugal foi apenas 1,28 gha. Ou seja, houve uma produção muito superior à capacidade de regeneração de recursos naturais.

É inevitável, por isso, falar-se de pegada ecológica sem se falar do Dia da Sobrecarga da Terra, que representa a data em que a humanidade esgota os recursos naturais que o planeta é capaz de renovar ao longo de um ano. Em 2024, a nível mundial, a sobrecarga do planeta aconteceu a 1 de agosto.

Em 2024, o Dia da Sobrecarga da Terra em Portugal deu-se a 28 de maio. Na Eslováquia, foi ainda mais cedo, no dia 12 de maio. Já a Polónia atingiu o dia da sobrecarga a 28 de abril e a Colômbia no dia 5 de outubro. Tomando Portugal como exemplo, se o mundo inteiro seguisse o mesmo estilo de vida dos portugueses, seriam necessários 2,9 planetas para sustentar a humanidade.

Para inverter a tendência, cada pessoa pode, com pequenos gestos, fazer a sua parte para reduzir a pegada ecológica e contribuir para um planeta mais sustentável. Junta-se ao desafio?

12 Resoluções de Ano Novo para reduzir a pegada ecológica

Neste novo ano, trazemos-lhe 12 resoluções, uma por mês, para aplicar no dia a dia e começar a reduzir a sua pegada ecológica.

Ilustração de homem e mulher a cozinhar.
  1. Janeiro: Uma nova forma de comer

A alimentação é um dos principais fatores para o aumento ou diminuição da pegada ecológica. Em Portugal, o consumo de alimentos representa cerca de 1/3 da pegada ecológica. A nossa tradição alimentar ainda depende muito da carne e do peixe, mas é no variar que está o ganho.

Uma porção de carne ou peixe equivale a 150 gramas e uma porção de fruta ou vegetais equivale a 80 gramas. A Organização Mundial da Saúde recomenda o consumo de até duas porções de carnes vermelhas e três porções de carnes brancas por semana, e o consumo de três a cinco porções de fruta e legumes por dia!

Aceite o desafio de comer mais vegetais, mais frutas, mais leguminosas, menos comidas processadas, menos carne e peixe, menos açúcar e menos gorduras – princípios valiosos da dieta mediterrânica. Porque não escolher um dia da semana para praticar uma dieta vegetariana ou vegana? Inspire-se com estas nove receitas veganas.

Porque é importante: uma alimentação variada, assente, sobretudo, em alimentos de origem vegetal, contribui para a redução da emissão indireta de gases com efeito de estufa e, consequentemente, para a redução da pegada ecológica.

Ilustração de pessoa a controlar candeeiro de pé através de um tablet.
  1. Fevereiro: Revisite a eficiência energética em casa

Em fevereiro, o desafio é olhar para dentro de casa. Sabia que as lâmpadas LED permitem poupar até 80% da energia consumida? E são muito mais duráveis do que as incandescentes e fluorescentes? Também é possível poupar dinheiro com os eletrodomésticos que utilizamos, olhando para as etiquetas de eficiência energética.

Atualmente, as etiquetas marcam de A a G, sendo A mais eficiente e G menos eficiente. Sempre que possível, opte pela classificação A para poupar na conta da eletricidade e na sua pegada ecológica. Conheça mais 7 formas de poupar energia e dinheiro sem dor.

Porque é importante: a eficiência energética reduz o consumo de energia e, consequentemente, a emissão de CO₂.

  1. Março: Compre roupas de forma consciente

Com a primavera a chegar, surge a vontade de renovar o armário, mas será que é necessário? O conceito fast fashion – “comprar, usar, deitar fora” – é oposto da sustentabilidade, que encoraja as pessoas a comprar, usar, usar, usar, reparar, usar mais, doar e fazer circular.

Ilustração de mulher a encaixotar roupa.

Por isso, em março, avalie o seu armário. Veja que roupas já não usa e pode doar, que peças podem ser reparadas, qual a roupa tem mesmo de ser substituída. No caso de ter de comprar roupa nova, aposte em peças de melhor qualidade, de fibras naturais e mais duráveis, e não descarte procurar soluções em segunda mão.

As peças de roupa com fibras naturais, como o algodão, têm menos quantidade de poliéster e outros plásticos, evitando a contaminação da água das lavagens com microplásticos. Aqui está uma dica para reduzir a pegada ecológica… com estilo.

Porque é importante: a indústria da moda é uma das mais poluentes do mundo – cerca de 20% da poluição global da água doce é responsabilidade da produção têxtil.

Ilustração de homem a andar de bicicleta.
  1. Abril: Uma nova forma de se mover

Se falamos de emissões de carbono e de consumo de recursos, temos de falar de transportes. A partir de abril, use mais os transportes públicos – autocarro, metro, elétrico e comboio – e, à medida que o bom tempo se aproxima, escolha a bicicleta, a trotinete, a scooter elétrica, ou ande a pé, sempre que a distância o permitir. O planeta, a carteira e a saúde agradecem.

Em alternativa, considere o carsharing ou carpooling. Na primeira opção, aluga um carro por um curto período, paga apenas pelo uso, sem precisar de se preocupar com manutenção ou custos fixos – não tem de recorrer a um rent-a-car, há cada vez mais apps que facilitam o processo e até pode usar o telemóvel como chave. A segunda opção, o carpooling, consiste em combinar boleias com colegas de trabalho ou amigos que vivam nas proximidades.

Porque é importante: os transportes são uma das maiores fontes de emissão de gases de efeito estufa. Trocar o carro por meios de transporte coletivos é mais sustentável e ajuda a reduzir a sua pegada ecológica.

Ilustração de mulher a regar planta à janela.
  1. Maio: Plante ervas aromáticas

Depois das águas mil de abril, vem maio e as suas flores. E nesta altura de regeneração, que tal fazer uma horta caseira? Plantar ervas aromáticas é mais simples do que pensa, quer tenha varanda ou não. Já imaginou poder temperar os seus cozinhados com manjericão ou salsa plantados por si? É uma oportunidade de se conectar com a natureza, ter refeições mais sustentáveis e encher a casa de aromas deliciosos. Comece com manjericão, salsa ou hortelã, que crescem facilmente em varandas ou janelas.

Porque é importante: cultivar as suas próprias ervas aromáticas reduz a necessidade de comprar produtos embalados, além de melhorar o sabor e a qualidade da alimentação.

Ilustração de mulher a apanhar gota de água que cai de uma torneira.
  1. Junho: Poupe água em casa

Logo depois do Dia Mundial do Ambiente, os primeiros dias de calor trazem um maior consumo de água – e um lembrete para a poupar. Note que, com “poupar água” falamos da água para lavar roupa e louça, tomar banho, usar o autoclismo ou fazer as lides domésticas; não estamos a falar da água para beber – mantenha-se hidratado e opte por beber água da torneira (o que diminui o consumo de plástico!).

Considere ainda colocar um recipiente no exterior para recolher a água da chuva. Pode também ter um balde ou uma bacia dentro do chuveiro para aproveitar a água que está a correr enquanto espera que aqueça. Esta água pode ser aproveitada para regar as plantas, na sanita ou para lavar o carro.

Porque é importante: ao reduzir o consumo de água está a poupar na sua fatura mensal e ainda a aumentar a disponibilidade deste recurso.

Ilustração de duas pessoas com mala de viagem a tirar foto.
  1. Julho: Férias alternativas

Sabia que, de todos os meios de transporte, o avião é aquele com as maiores emissões de carbono e de gases com efeito de estufa? Andar de avião justifica-se em viagens longas, já que as descolagens e aterragens são os momentos onde se geram mais poluentes e se gasta mais combustível. Para viagens curtas, considere o comboio, o ferry, o autocarro ou o automóvel.

Seja “cá dentro” ou “lá fora”, mantenha escolhas conscientes durante as férias, como visitar os locais a pé ou usar os transportes públicos, não poluir, fazer reciclagem, dar prioridade aos reutilizáveis, consumir produtos locais e ajudar o comércio local.

Porque é importante: cerca de 2,5% das emissões globais de CO₂ são responsabilidade da aviação. Para minimizar este impacto ambiental, é importante evitar o avião quando pode fazer o trajeto em transportes como o comboio ou o autocarro.

Ilustração de homem com carrinho de supermercado cheio.
  1. Agosto: Questione as suas compras

Em agosto, faça uma pausa nos mergulhos e comece a questionar de onde vêm os seus alimentos. É vital comprar produtos locais, mas será que sabe se o chocolate que compra contém cacau de produções sustentáveis? Ou como o óleo de palma chegou até si? Conhecer a origem dos alimentos é muito importante, bem como as certificações de sustentabilidade ou de comércio justo; é uma forma de ajudar os produtores e comerciantes locais e de países em desenvolvimento e, claro, o ambiente. Na próxima vez que for ao supermercado, preste atenção a estas informações. Dentada a dentada, é possível reduzir a pegada ecológica!

Porque é importante: Quanto mais próximos estivermos do local de produção dos produtos que consumimos, melhor para o planeta – e até para a saúde. Evitará milhares de quilómetros percorridos no transporte destes produtos, e aumentará a frescura do que consome.

Ilustração de homem a colocar painel solar.
  1. Setembro: Aposte em energias renováveis

Se estiver a pensar em utilizar energias renováveis em casa, aproveite o mês de setembro para passar à ação. Colocar painéis solares não é tão difícil como foi em tempos, e há kits fotovoltaicos de autoconsumo que permitem poupar algumas centenas de euros por ano na conta da eletricidade. Pode também aproveitar os incentivos fiscais e programas de financiamento disponíveis para quem instala sistemas de energia renovável. Caso tenha um rio ou curso de água por perto, pode aproveitar a energia hídrica; e certamente poderá usar energia de biomassa para aquecer a casa no inverno. São investimentos que valem a pena.

Porque é importante: o uso de energias renováveis reduz a dependência de combustíveis fósseis e as emissões de gases com efeito de estufa.

Ilustração de homem com saco de reciclagem.
  1. Outubro: Recicle mais e melhor

As mudanças começam no interior… de nós próprios e das nossas casas. Um gesto tão simples como colocar as embalagens nos ecopontos correspondentes é um grande passo em direção a uma menor pegada ecológica. Caso ainda não faça parte da sua rotina, aceite o desafio de colocar três ecopontos na sua cozinha. É a melhor forma de fazer a separação dos resíduos e, assim, ser mais fácil o seu devido encaminhamento na altura de “ir ao lixo”. Se há crianças aí em casa, esta é uma oportunidade de as incluir na adoção de hábitos mais sustentáveis, tornando a reciclagem um compromisso familiar.

Sabia que existem mais do que três ecopontos? Da próxima vez que usar óleo alimentar ou substituir as pilhas do comando da TV ou da box, saiba que lhes pode dar uma outra vida. Conheça ainda os 5 Rs que tornam a vida mais sustentável.

Porque é importante: reciclar reduz o desperdício de materiais, conserva recursos naturais e diminui a quantidade de lixo nos aterros.

Ilustração de duas mulheres sentadas à mesa a conversar.
  1. Novembro: Espalhe a palavra

Outra parte essencial da jornada de redução da pegada ecológica é incentivar mais pessoas a juntarem-se à causa. Fale com os seus colegas de trabalho, conte a sua experiência a amigos e familiares, partilhe as suas mudanças e conquistas nas redes sociais e desafie outros a juntarem-se a si.

Porque é importante: quanto mais pessoas se unirem à causa, maior será o impacto positivo no planeta.

Ilustração de homem a coser meia de Natal.
  1. Dezembro: Mais consumo consciente

Por fim, chega dezembro e uma das alturas mais aguardadas do ano, o Natal. Neste mês, pense no caminho que percorreu, faça uma lista com os maus hábitos que abandonou e com os bons hábitos que adotou. Para terminar o ano em perfeição, celebre um Natal mais sustentável, dos presentes à ceia. Quanto ao desperdício alimentar, pondere as quantidades que irá preparar para a quadra e para a passagem de Ano.

Para a troca de presentes, sugira fazer o amigo secreto entre família. Conheça um guia para presentes de Natal sustentáveis e outro com ideias de presentes DIY.

Porque é importante: o Natal pode ser uma época de consumo excessivo que resulta em mais desperdício de alimentos e de resíduos (embalagens, embrulhos, etc.).

Como escolher e aplicar as resoluções de Ano Novo?

Escolher as resoluções de Ano Novo deve ser algo pessoal e alinhado com o seu estilo de vida. Comece por refletir sobre as áreas em que gostaria de melhorar e defina metas que sejam realistas e alcançáveis – o importante é que sinta motivação para continuar. Ainda que o início possa ser desafiante, estes hábitos vão passar a ser o seu “novo normal” – não desista.

Parece que percorremos um calendário inteiro, mas estamos apenas no início. Esta é a altura perfeita para dizer “sim” à mudança. Aceita o desafio?