Dieta mediterrânica: mais do que alimentação, um estilo de vida
Os povos do Mediterrâneo têm em comum a forma de cultivar alimentos, os ingredientes e modos de confeção das refeições e a forma como vivem os momentos à mesa. Estamos a falar da dieta mediterrânica. Descubra o que é e os seus benefícios.
O que é a dieta mediterrânica?
Mesmo que não saiba responder de forma exata a esta pergunta, o mais provável é que alguns dos princípios da dieta mediterrânica façam parte da sua rotina alimentar. Isto porque o conceito de dieta mediterrânica foi aplicado a algo que já existia – um modo único de olhar para a alimentação e, em última instância, para a vida, e que, a par dos hábitos alimentares, está muito relacionado com a cultura de um país. Vamos explicar tudo.
A dieta mediterrânica é, como o nome indica, um padrão alimentar característico dos países do Mediterrâneo, como é o caso de Espanha. Embora Portugal seja um país banhado pelo oceano Atlântico, as suas características semelhantes, como o clima, e a sua proximidade com o mar “vizinho” fazem com que este possa ser considerado um país do Mediterrâneo – por exemplo, Portugal segue a dieta mediterrânica.
Esta dieta segue princípios milenares na forma de produzir alimentos, respeita ingredientes naturais e privilegia métodos de confeção simples, em que os produtos de origem vegetal, frescos, sazonais e locais, são o grande trunfo.
Mas porque é que a dieta mediterrânica tem tanto destaque?
Na década de 50 do século XX, o fisiologista, nutricionista e cientista de saúde pública norte-americano Ancel Keys conduziu o famoso “Seven Country Study” ou “Estudo dos Sete Países”, com o qual demonstrou como os povos de sete países localizados na bacia do mediterrâneo, como Itália, Grécia e Japão, tinham menos doenças cardíacas e uma maior longevidade, comparativamente com outras zonas do mundo. O que tinham em comum? Os alimentos que ingeriam – como os de origem vegetal, o peixe e o azeite – e o estilo de vida – praticavam exercício físico e encaravam a refeição como um momento de partilha e convívio. Keys cunhou assim o termo dieta mediterrânica.
O sucesso da dieta mediterrânica levou mesmo a UNESCO a considerá-la, em 2013, “Património Cultural Imaterial da Humanidade”. Um modelo alimentar cultural, histórico e de saúde a preservar e para ser transmitido como herança cultural às gerações futuras.
São 10 os princípios que caracterizam a dieta mediterrânica:
- Cozinha simples que protege os nutrientes, como as sopas, os cozidos, os ensopados e as caldeiradas.
- Elevado consumo de produtos de origem vegetal, como fruta, vegetais e leguminosas.
- Preferência por produtos de época, frescos e locais.
- Azeite como principal fonte de gordura.
- Consumo moderado de laticínios.
- Ervas aromáticas como tempero preferido, reduzindo o sal.
- Consumo frequente de peixe e reduzido de carnes vermelhas.
- Consumo baixo a moderado de vinho e apenas nas refeições principais.
- Água como principal bebida ao longo do dia.
- Convívio e partilha à mesa.
Quais os benefícios da dieta mediterrânica?
Sabia que a palavra “dieta” vem da palavra grega diaita que significa “modo de vida”? A dieta mediterrânica é, também, um estilo de vida – além dos alimentos que privilegia, inclui certos hábitos que contribuem para uma boa saúde e longevidade, como a preferência por produtos locais e da época, o que contribui para a sustentabilidade, o convívio durante as refeições e durante a sua preparação, que tem um papel importante numa vida social ativa, na felicidade e no bem-estar, e ainda a moderação na alimentação.
Além disso, o exercício e a atividade física, bem como o consumo regular de água, são pilares fundamentais da dieta mediterrânica. Estes são alguns dos seus principais benefícios:
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Reduz o risco de doenças cardíacas e de diabetes tipo 2
Dado que a dieta mediterrânica dá preferência a gorduras ditas “boas”, como as monoinsaturadas encontradas no azeite, e inclui muitas frutas, hortícolas, cereais integrais e peixes, pode ajudar a reduzir o risco de doenças cardíacas. Devido ao seu alto teor em fibra, baixo consumo de açúcares adicionados e presença de alimentos de baixo índice glicémico, pode ainda ser uma boa aliada na prevenção da diabetes tipo 2.
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Promove a saúde mental e uma maior longevidade
Alguns estudos sugerem que a dieta mediterrânica pode influenciar positivamente a saúde mental, incluindo a redução do risco de depressão e de declínio cognitivo relacionado com a idade. Este motivo, associado aos nutrientes que fornece e que previnem o aparecimento de determinadas doenças, aumenta a probabilidade de as populações que seguem uma dieta mediterrânica atingirem uma maior longevidade.
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Combate a inflamação
A dieta mediterrânica possui propriedades anti-inflamatórias através de alimentos como frutas, hortícolas, frutos secos e oleaginosos (como nozes) e peixes ricos em ómega-3.
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Promove hábitos sustentáveis
Desde a produção ao consumo, este tipo de dieta é baseada em alimentos frescos, locais e sazonais, o que ajuda a promover práticas alimentares mais sustentáveis e a reduzir o seu impacto ambiental.
Alimentos que fazem parte da dieta mediterrânica
Os alimentos que constituem a dieta mediterrânica podem ser representados em forma de pirâmide. Na base estão os ingredientes que devem ser consumidos com maior frequência – como a água e infusões – bem como a atividade física, a diversidade de alimentos e o uso de produtos sazonais. À medida que subimos na pirâmide, temos:
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Nível 2: frutas, hortícolas, cereais e azeite.
Recomenda-se o consumo de três a cinco peças de fruta e hortícolas por dia. Devem ser incluídos cereais integrais como arroz, massa ou pão, e o azeite deve ser a principal fonte de gordura.
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Nível 3: alimentos ricos em gorduras “boas”.
Como as azeitonas, os frutos secos e as sementes. Também as ervas aromáticas (como o tomilho bela-luz) e as especiarias fazem parte, sendo ótimas aliadas para substituição do sal em diferentes confeções.
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Nível 4: Laticínios, peixe e carnes brancas.
Os laticínios devem ser de preferência magros e consumidos duas a três vezes por dia. O peixe deve ser consumido em maior frequência (pelo menos 2 vezes por semana) quando comparado com as carnes brancas e os ovos. As leguminosas são também uma boa fonte de proteínas de origem vegetal, podendo ser incorporadas em diversas receitas.
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Nível 5: batatas e carnes vermelhas.
Devido ao seu elevado índice glicémico, aconselha-se o consumo de três porções semanais ou menos de batata. As carnes processadas e as carnes vermelhas não devem ultrapassar uma e duas porções por semana, respetivamente.
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Topo da pirâmide: doces.
Como são normalmente ricos em açúcar e gordura, os bolos, as guloseimas, as bebidas açucaradas e o açúcar simples devem ser reservados para ocasiões especiais e consumidos em quantidades pequenas.
Alimentos ordenados de maior para menor quantidade. Base: atividade física diária e descanso adequado; Diário: água e infusões, fruta fresca e hortícolas, pão, massa, arroz, azeite, azeitonas e frutos secos, ervas aromáticas, alho e cebola, queijo, leite e iogurtes; Semanal: carnes brancas, pescado, ovos, leguminosas, carnes vermelhas e processadas, batatas, doces; Vinho em moderação.
Para que se possa inspirar na cozinha, veja esta lista de receitas com ingredientes característicos da dieta mediterrânica, como uma sopa de peixe, um risotto de couve-portuguesa com abóbora ou um bacalhau no pão. Que delícia!