(Muita) informação nutricional

Pense na sua bolacha de chocolate favorita. Na sua composição, há uma determinada quantidade de açúcar, gordura e outros ingredientes. Além do sabor, como saber qual o impacto do consumo dessa bolacha na saúde? Basta ler a informação nutricional disponível na embalagem – uma resposta que tem tanto de simples como de complexa. É que, por vezes, a tabela nutricional de um produto pode parecer um autêntico quebra-cabeças.

Um estudo de 2021 indica que os consumidores portugueses têm o hábito de ler a informação nutricional apresentada nas embalagens dos produtos alimentares, mas dificuldade em compreendê-la. No momento de compra é valorizada a lista de ingredientes (quanto menor a lista e mais simples os ingredientes, melhor) e os atributos de um produto — nomeadamente, alimentos pouco processados, de produção local, sem aditivos artificiais, corantes ou conservantes, e livres de organismos geneticamente modificados (OGM) — mas pode ser difícil compreender alguns dos termos técnicos que constam na tabela nutricional.

Para além dos atributos nutricionais dos alimentos, as marcas e os retalhistas têm procurado melhorar a qualidade da informação nutricional apresentada nas embalagens, criando padrões que ajudem o consumidor a tomar as escolhas mais acertadas. Está na hora de descobrir como interpretar a informação nutricional.

O que significa a informação nutricional?

A informação nutricional é apresentada nos rótulos alimentares, geralmente através de uma tabela. Indica os valores médios de energia, lípidos, hidratos de carbono, açúcares, fibra, proteínas e sal que cada 100 g ou 100 ml do alimento em questão contêm. Normalmente, apresentam-se também os valores correspondentes à porção média indicada, que depende do alimento, e a correspondente percentagem das doses de referência (DR).

Ilustração de hambúrguer, frutas e legumes vários, com balões indicativos das calorias.
  • Energia

Apresentada em quilojoules (kJ) e quilocalorias (kcal), corresponde ao valor calórico total fornecido pelos alimentos ao organismo. É comum dar-se particular atenção às calorias, avaliando o produto consoante as mesmas, o que pode ser enganador. O corpo humano precisa de calorias, ou seja, de energia, para conseguir funcionar, pelo que importa, sobretudo, dar primazia aos ingredientes e compreender de que nutrientes provêm essas calorias.

Ilustração de galheteiro de azeite.
  • Lípidos

São mais conhecidos por gorduras e têm um papel importante no transporte de vitaminas, produção de hormonas e proteção de órgãos. As gorduras saturadas, encontradas sobretudo em alimentos como produtos de pastelaria e charcutaria, manteiga ou sobremesas, devem ser consumidas em menor quantidade.

O consumo de gorduras saturadas contribui para o aumento dos níveis de colesterol sanguíneo e para um maior risco de doenças cardiovasculares. Devemos, por isso, consultar os rótulos dos produtos alimentares e privilegiar produtos com menor quantidade de gordura saturada.

Ilustração de homem segurando fatia de pão de forma.
  • Hidratos de carbono

Injustamente rotulados de inimigos a uma alimentação saudável, os hidratos de carbono fornecem a energia indispensável ao funcionamento dos músculos e do cérebro. Podemos dividi-los em dois tipos: simples (monossacáridos e dissacáridos) e complexos (polissacáridos).

Nos hidratos de carbono simples, inclui-se a frutose (presente na fruta), a lactose (do leite e derivados), mas também a sacarose (o nome dado ao típico “açúcar de cozinha”, presente em produtos como sobremesas ou refrigerante – um tipo de hidrato de carbono a reduzir ou evitar). Nos hidratos de carbono complexos, encontramos a fibra (presente nos cereais integrais e derivados, leguminosas, fruta e hortícolas) e o amido (presente nas batatas e nos cereais e derivados).

Ao ler a informação nutricional, verifique a quantidade de hidratos de carbono dos quais açúcares e opte por produtos com menor quantidade de açúcar. O ideal será escolher os alimentos cujo açúcar está naturalmente presente, ou seja, sem açúcar adicionado.

Ilustração de mulher segurando brócolos.
  • Fibra

Como mencionado acima, a fibra é também um hidrato de carbono, sendo fundamental para o controlo da glicemia e do colesterol, e para o bom funcionamento do intestino. Devemos privilegiar alimentos com maior teor de fibra.

Ilustração de mulher segurando caixa com ovos.
  • Proteínas

Essenciais ao crescimento e manutenção do corpo humano, as proteínas são componentes estruturais das células. Existem fontes de proteína animal, como carne, peixe e ovos, mas também fontes de proteína vegetal, como o tofu ou as leguminosas.

Ilustração de duas mulheres retirando sal de uma taça com colheres.
  • Sal

O sal tem uma função importante no funcionamento do organismo, sendo necessário para a atividade dos músculos e do sistema nervoso. Se for consumido em excesso, pode provocar o aumento da pressão arterial. Descubra como pode reduzir o sal na sua alimentação.

O que é a dose de referência (DR)?

A dose de referência (DR) é o valor recomendando para a quantidade de energia e nutrientes que um adulto deve consumir, em média, por forma a satisfazer as suas necessidades nutricionais. Este valor é apresentado em percentagem na informação nutricional de alguns produtos e deve ser interpretado da seguinte forma: tendo em conta a porção de consumo recomendada (por exemplo, 25 g), é apresentado o valor médio de cada nutriente (por exemplo, 5,9 g de açúcar), e a percentagem da DR a que essa quantidade correspondente (por exemplo, 7%). Ou seja, a quantidade de açúcar presente numa porção desse alimento corresponde a 7% da dose de referência de açúcar para um adulto.

Como escolher um produto com base na sua informação nutricional?

Já sabemos o que significa cada um dos elementos da tabela nutricional, mas como saber se 10 g de açúcar é considerada uma quantidade elevada? Ou como avaliar se um iogurte tem pouca gordura? Para ajudar a responder a questões como estas, a Direção-Geral da Saúde estabeleceu dois descodificadores de rótulos, um para alimentos e outro para bebidas. Para cada 100 g ou 100 ml, respetivamente, é avaliada a quantidade de gordura, gordura saturada, açúcar e sal presente.

A quantidade de cada um destes quatro nutrientes é classificada como alta (a vermelho), média (a amarelo) e baixa (a verde). O objetivo é ajudar a identificar os produtos alimentares mais equilibrados, optando por alimentos e bebidas cujos nutrientes se encontram maioritariamente na categoria verde, moderando aqueles com um ou mais nutrientes na categoria amarela e evitando aqueles com um ou mais nutrientes na categoria vermelha.

Preparámos as seguintes ilustrações – leve-as consigo numa próxima ida ao supermercado, para que possa comparar os valores de cada produto.

Ilustração de tabelas de apoio para descodificar rótulos

Tendo em conta estes parâmetros, e respondendo à pergunta que iniciou este artigo, se a sua bolacha de chocolate preferida tem, por exemplo, 30 g de açúcar por cada 100 g, o valor é alto, inserindo-se na categoria vermelha. Não quer isto dizer que o seu consumo deva ser proibido, mas sim ocasional e numa quantidade mais reduzida.

Informação nutricional: As regras de ouro dos rótulos alimentares

Segundo as regras de rotulagem de alimentos da União Europeia (UE), um rótulo alimentar deve conter a seguinte informação nutricional:

Conter a lista completa dos ingredientes (incluindo aditivos alimentares), informações sobre alergénios e a quantidade de determinados ingredientes, devendo ser apresentada por ordem decrescente de peso. Ou seja, o primeiro ingrediente da lista é aquele com maior concentração.

Indicar a percentagem de certos ingredientes que constem do nome do produto, sejam destacados no rótulo alimentar ou essenciais para caracterizar o alimento ou distingui-lo de outros (por exemplo, o rótulo de uma tarte de maçã deve informar sobre a percentagem de maçã na lista de ingredientes).

Indicar os alergénios de forma clara e distinta de outros ingredientes, usando, por exemplo, um tipo/tamanho de letra diferente ou uma outra cor de fundo.

Recorrer à palavra “contém” para apresentar os alergénios (por exemplo, “contém glúten”) no caso de não ser apresentada uma lista de ingredientes.

Vegetariano, vegan, sem glúten, sem lactose

Em Portugal, estas designações são de inclusão opcional, uma vez que a lista de ingredientes e de alergénios já é obrigatória. Após controlos laboratoriais, o Pingo Doce atualiza mensalmente o seu catálogo “SEM GLÚTEN” e o seu catálogo “SEM LACTOSE” disponíveis online.

Origem, conservação e instruções

Além da informação nutricional, dos ingredientes e dos alergénios, os rótulos alimentares devem ainda conter: peso ou volume líquido, país de origem, nome e localização do produtor, condições especiais de utilização e conservação (por exemplo, “conservar no frigorífico depois de aberto”), bem como instruções de uso.

Informação nutricional: Nutri-Score

Já se cruzou com um código de cores e letras presente na frente das embalagens de produtos alimentares? Chama-se Nutri-Score (do inglês Nutritional Score – algo como “Pontuação Nutricional”) e é um sistema de rotulagem que permite aos consumidores avaliar rapidamente o perfil nutricional de um alimento.

Logo do nutri-score.

O Nutri-Score classifica os alimentos numa escala colorida, onde as letras de A a E correspondem, respetivamente, às cores verde-escuro, verde-claro, amarelo, laranja e vermelho.

De forma intuitiva, o verde-escuro (A) está associado a alimentos com uma composição nutricional mais equilibrada e o vermelho (E) a alimentos com menor qualidade nutricional e, frequentemente, com maior quantidade de gordura, açúcar ou sal.

E como é calculada a “nota” Nutri-Score?

Existe um algoritmo que atribui pontos a diferentes características do produto. O cálculo é feito somando os pontos da presença de nutrientes menos desejáveis (como gorduras, sal e açúcar) e subtraindo a pontuação relativa à de ingredientes/nutrientes mais desejáveis como proteínas, fibra ou fruta, e hortícolas. Quanto mais baixa for a pontuação total, melhor será a classificação Nutri-score do produto.

Importa salientar que o Nutri-Score deve ser usado de forma complementar com a restante informação nutricional presente no rótulo, e que o seu objetivo é facilitar a escolha entre alimentos semelhantes da mesma categoria e produzidos de forma industrial. Isto significa que o Nutri-Score não deve ser usado para uma comparação entre leite simples e leite com chocolate, por exemplo, mas sim para comparar diferentes leites com chocolate.

Alimentos como frutas e vegetais, essenciais na dieta mediterrânica, estão isentos da aplicação de Nutri-Score. Este rótulo apenas pode ser encontrado em produtos pré-embalados, que sofreram algum tipo de processamento.