Da praia ao prato (quase)

Quem gosta de se deliciar com um colorido tabuleiro de sushi, muito provavelmente já ingeriu pelo menos uma alga comestível, a nori. Quem todos os dias toma o seu suplemento de espirulina está, de facto, a consumir uma alga. E então a ágar-ágar, a gelatina vegetal que é extraída de algas marinhas comestíveis? Se são apenas nomes esquisitos para si, explicamos tudo.

As algas comestíveis são apreciadas há milénios nos países do Oriente, como a China e o Japão, e agora são parte fundamental das cozinhas destes e de muitos outros países. Vamos mergulhar no mundo das algas comestíveis: saiba os tipos, as diferenças, os benefícios para a saúde e como as pode incorporar na sua dieta.

Os tipos de algas comestíveis

Podemos classificar os diferentes tipos de algas em dois grandes grupos: as microalgas e as macroalgas.

  1. Microalgas

São organismos de dimensões microscópicas que crescem em água doce ou salgada. Têm diâmetros compreendidos entre as décimas de micrómetros (um micrómetro é a milésima parte do milímetro) e as décimas de milímetros. São encontradas em ambientes aquáticos de todo o planeta, desde os desertos mais quentes aos pontos mais frios do Ártico. As microalgas são usadas na indústria alimentar e também na indústria da saúde, para o desenvolvimento de suplementos e medicamentos.

Algumas das mais conhecidas são:

Ilustração de clorela.
  • Clorela

Rica em proteína e outros nutrientes, tais como magnésio, niacina, fósforo e ferro, que, entre outras funções, contribuem para um normal metabolismo produtor de energia.

Ilustração de espirulina.
  • Espirulina

Quando seca é cerca de 80% proteína e contém diversos nutrientes com diversas funções, tais como:

– Ferro, que contribui para o transporte normal do oxigénio no organismo,

– Cobre, que contribui para a normal pigmentação do cabelo e da pele,

– Vitamina B1, que contribui para o normal funcionamento do coração,

– Vitamina B2, que contribui para a manutenção de glóbulos vermelhos normais.

  • Tetraselmis

Contem carotenoides, clorofila e vitamina C, que contribui para o normal funcionamento do sistema imunitário.

  1. Macroalgas

São popularmente referidas como algas comestíveis e dividem-se em três grandes grupos:

Algas comestíveis vermelhas
Abundantes em ambientes marinhos, mas raras em água doce, as mais conhecidas são as nori (tipicamente associadas ao sushi), as dulse e o musgo-da-Irlanda.

Ilustração de alface-do-mar e caviar-verde.

Alface-do-mar e caviar-verde

Algas comestíveis verdes
Abundantes em todos os ambientes aquáticos — marinho, de água doce e de águas salobras — e até em ambientes terrestres húmidos. São bastante utilizadas em cozinhas gourmet ou até mesmo em receitas tradicionais portuguesas. Não acredita? A erva-do-calhau, por exemplo, é muito apreciada nos Açores e usada para fazer as chamadas tortas, uma iguaria da ilha do Corvo. A alface-do-mar, usada em saladas e sopas, ou o caviar-verde, que se parece com caviar e muito usada na cozinha das Filipinas, são outros exemplos.

Algas comestíveis castanhas
Representam a maior parte das algas comestíveis e são especialmente apreciadas nas diversas cozinhas asiáticas:

  • a wakame, um ingrediente da sopa miso,
  • a kombu, muito usada no Japão como tempero,
  • a bodelha, existente na costa portuguesa,
  • o esparguete-do-mar, amplamente usada em saladas em substituição de massa,
  • a aramé, de sabor muito suave,
  • a erva-patinha-castanha, estrela no País de Gales,
  • a gim (ou kim), usada na Coreia,
  • a hijiki, famosa no Japão.

Propriedades nutricionais das algas comestíveis

Praticamente todas as algas comestíveis marinhas são ricas em iodo, um mineral muito importante para o bom funcionamento da tiroide. Adicionalmente, quase todas as algas comestíveis são excelentes fontes de micronutrientes como é o caso do ácido fólico, cálcio, magnésio, zinco, ferro, fósforo e selénio.

Sabia que?

Além dos quatro sabores básicos do paladar humano (doce, salgado, amargo e ácido), que todos aprendemos na escola, há mais um — o umami. Este sabor, difícil de explicar, foi descrito formalmente pela primeira vez em 1908, pelo professor Kikunae Ikeda, da Universidade Imperial de Tóquio, enquanto estudava a alga kombu. O gosto umami está associado a glutamatos, presentes na maioria das algas. Outros alimentos com sabor umami são o peixe, mariscos, carnes curadas, cogumelos, tomates, espinafres, aipo, chá-verde e produtos fermentados como queijo, molho de soja ou levedura nutricional.

Como usar algas comestíveis

Nas culturas asiáticas, são usadas como um vegetal normal e corrente. Muitas são vendidas frescas, mas praticamente todas são vendidas desidratadas — em especial se forem destinadas à exportação. As algas comestíveis que vai encontrar serão, muito provavelmente, secas. Por isso, terá de as hidratar para as utilizar nas suas receitas. Se quiser as algas “cruas”, pode hidratá-las durante uns minutos em água; se as pretender consumir cozinhadas, pode hidratá-las durante a cozedura.

Então, em que receitas e pratos se podem utilizar? De acordo com Japão, China, Coreia, Filipinas, Nova Zelândia, Irlanda, País de Gales, ou mesmo Açores e Madeira, em muitos!

  • A erva-patinha-castanha é deliciosa quando frita na gordura de bacon, temperada com sumo de limão e pimenta, e servida a acompanhar carnes assadas.
  • As algas nori e gim, apesar de diferentes, são consumidas de formas muito semelhantes. Além de usadas a envolver arroz em sushi ou como um wrap, são também picadas finamente e usadas como tempero, tostadas no forno e transformadas em chips ou ainda numa salada com molho de soja, óleo de sésamo, alho e cebolinho.
  • A wakame é um substituto de espinafres ou rúcula em saladas, dando igualmente sabor a uma sopa. Já a kombu, que também brilha em sopas e saladas, pode ser usada como especiaria em ensopados e guisados; no Japão é muito usada para fazer caldos. Experimente uns flocos de dulse nos ovos mexidos do pequeno-almoço ou faça uma refrescante infusão salgada.

Não esqueça ainda os pratos vegetarianos e vegan, aos quais as algas comestíveis marinhas conferem um sabor parecido ao do marisco. Perfeitas para aquela salada russa vegetariana, mas com um saborzinho a mar.

Em suma, têm lugar em saladas, em sopas, servem como acompanhamento, podem ser picadas como as ervas aromáticas, trituradas e incorporadas em smoothies, num ensopado ou num risoto… Enfim, podem ser apreciadas de muitas formas e são deliciosas.